A par do "Seja o que Deus quiser", esta é uma das máximas de eleição do povo português. Por muito má que seja a situação na qual se encontra, o típico português aceita-a com graça e passividade. Se deve 13000 euros ao fisco e vai ficar com a casa penhorada, ele só tem que estar feliz. Está bem que vai passar a dormir com o céu como tecto mas ao menos não tem lepra, por exemplo. Limita-se a cruzar os braços e desabafar num breve suspiro "Bem vistas as coisas, podia ser muito pior". O "podia ser pior" é fruto daquele conformismo fatalista tão emblematicamente lusitano. A par do bacalhau à lagareiro, o espírito do "deixa andar que não faz mal" é a nossa grande contribuição à civilização moderna, o astrolábio dos tempos presentes. Mas até aqui manifestamos um profundo sentimento de abnegação e pequenez. As coisas nunca podiam ser melhores. Não, senhor. Podem sempre ser piores. Há que assumir a posição de penitente e sentir orgulho no malfadado destino que se tem. O copo tem que estar meio-vazio, sempre. Se estivesse meio-cheio, poderia transbordar. Ou, como dizem os decanos da sociedade, foi assim que deus quis. Hoje, por exemplo, deus quis que o Benfica não ganhasse ao Setúbal. É assim. Podia ser pior? Claro! Isto com o Benfica pode sempre ser pior...