Somos um país pobrezito. Temos um PIB miserável, salário mínimo terceiro mundista, apertamos o cinto até às orelhas na esperança de um dia poder atenuar o deficit nacional. Somos os pés-rapados da Europa. Verdade seja dita, a única coisa na qual Portugal não apresenta carências é na produção em massa de gente estúpida. Bom... nisso e na construção de estádios de futebol desnecessários. Mas isso já é outra conversa. Concentremo-nos na questão das pessoas estúpidas. Ora, em primeiro lugar, o que é a estupidez? Diz-me o meu fiel dicionário que é isto: Falta de inteligência e de delicadeza de sentimentos. Vendo bem as coisas, disso temos cá nós a pontapés. Não acreditam? Então liguem a televisão. Há 94% de hipóteses de darem imediatamente de caras com um espécimen desses. Não vos apetece? Vão à rua e metam conversa com cinco pessoas diferentes. Uma delas há de padecer desta maleita. É triste mas é verdade. E porque é que isto acontece? Não faço ideia. Talvez o facto de termos uma cultura orientada para a glorificação da mediocridade ajude. Qual é que foi o último grande feito dos portugueses com impacto além-fronteiras? Não foi certamente empatar com a Finlândia ou ganhar por um aos padeiros da Arménia. Não senhor. De momento, somos conhecidos lá fora como "os gajos com o maior assador de castanhas do mundo". É obra! E quando não é por isso, é por sermos uma espécie de carniceiros do asfalto. Chamem-lhe estupidez, falta de civismo, tanto faz. Como dizia o meu professor de história, "a merda é a mesma, as moscas é que são outras". Adiante. Existem dois tipos de pessoas estúpidas: o estúpido assumido e o estúpido velado. O assumido ao menos é honesto na sua estupidez. Aprecia ser grotescamente alarve e toma prazer/orgulho nisso. Sabe que é uma besta e está-se bem nas tintas para isso. É o condutor que se faz bêbado à estrada, o fanático que vai para os estádios de futebol com dois calhaus da calçada nos bolsos, o taxista que durante o trajecto dá palestras sobre as suas ideias pró-eugenia e o marido que arrebimba umas lambadas na mulher. Já o estúpido velado, esse não se julga estúpido. Acha-se o dono da verdade suprema. Qual matador de toiros, que esconde o estoque por trás da capa, o estúpido velado camufla a sua cretinice num subterfúgio de perspicuidade. São indivíduos profundamente mentecaptos mas com uma noção de si próprios inversa a isso. Quando penso em estupidez velada, o nome "Júlia Pinheiro" salta imediatamente da boca para fora. A grande diferença entre os dois é que enquanto o estúpido assumido é imbecil para com os outros, o estúpido velado aprecia fazer os outros passar por imbecis. Mas, ainda assim, as pessoas estúpidas não são totalmente desprovidas de préstimo. Ao fim de meia-hora de conversa com uma delas, qualquer diálogo posterior acaba por se tornar numa actividade intelectualmente estimulante. Nem que seja sobre plantações de nabiças com a senhora da banca da fruta.